quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Movie yourself


Música e cinema. Essa é a bela mistura que está sendo feita pela Insecta Produções  nessa 2ª edição do Floripa Noise, festival dedicado à música independente, e que neste ano também está trazendo filmes e lançamentos do circuito "faça você mesmo". Começa dia 13, sexta feira sem lua cheia, infelizmente, e vai até o dia 21. Cada noite em um lugar diferente da ilha. A programação detalhada você pode ver aqui.

É no meio desse "barulho" todo que vamos ter a chance de ver, no domingo, dia 15, o "Guidable - a verdadeira história do Ratos de Porão", documentário de Fernando Rick e Marcelo Appezzato, lançado este ano. Para quem não sabe, o Ratos de Porão foi uma banda brasileira de hardcore que teve grande influência na cena musical. O filme vai ser exibido no John Bull Pub, na Lagoa da Conceição, e começa às 20 horas. A entrada para assistir o filme é gratuita, mas quem chega depois das 22 horas, quando então começam a tocar as bandas, tem que desembolsar quinzão!!!

No dia 16 terá uma seleção do cineclube Plasticine que irá acontecer no Espaço Cultural Sol da Terra, na Lagoa da Conceição. E sem perder o folego, no dia 19, no De Luxe Studio, no centro da cidade, vai rolar a "Mostra Gore" de Peter Baierstorf e Gurcius Gewder.

Toda a programação de cinema será sempre às 20 horas.

EXTRA! EXTRA! O primeiro e o último dia do Floripa Noise foram cancelados. Os motivos???? Clique aqui.

                                                                                                                          por Dani Pacheco
                                                                                                                                                

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Oito doses de conhaque

Quase 50 horas de gravação, 4 dias de labuta intensa e “muitas” doses de “conhaque”, na verdade um chazinho artificial. Esse é o filme do roteirista e diretor Breno Turnes, acadêmico na finaleira do Curso de Cinema da Universidade do Sul de Santa Catarina, vulgo UNISUL. O filme? Oito doses de conhaque, seu trabalho de conclusão de curso.

Com um orçamento na média de R$ 3.000,00, Breno gravou a estória de um cineasta, Lázaro, falido e f.... que, ao resolver filmar uma história de amor (depois de muito filme de putaria), se mete com um bixeiro capitalizador de recursos e que se acha no direito de apitar sobre o roteiro.

O filme (do Breno) tem como referência o “Medo e Delírio” (Terry Gilliam) e “O Lutador” (Darren Aronofsky). Mas a estética de muitas cenas são linchynianas, como se ve quando um Matusalém (Renato Turnes), com um ar de Nosferatu, sai lentamente de baixo da cama para povoar os pesadelos do casal (Milena & Lázaro) . A cena é toda gravada de cima e o efeito é transtornador.

Utilizando equipamento de ponta e lente de 35 mm, Breno contou com a parceria de amigos que abraçaram a causa com ele. O diretor é, inclusive, o primeiro a dizer que “talvez, se tivesse ganhado algum edital, não teria equipamentos tão bons quanto os que conseguiu”. Saí convencida: o importante é ter amigos. E paixão logicamente. Amigos e companheiros de batalha, pois a grande maioria que estava lá já desenvolveu alguns projetos juntos.

Acompanhei durante três dos 4 dias de gravação, e posso dizer que é admirável a garra e profissionalismo da galera. O respeito ao silêncio no momento das gravações, alimentação diária para cerca de 20 pessoas que estavam no set, horários religiosamente marcados, planejamento constante, transporte para toda a equipe. Tudo na camaradagem, o que em nenhum momento tirou a seriedade do trabalho.

Talvez não tão sério mas bastante profundo, foi o baita corte que a atriz Julie Cristie, que interpretava Milena, levou na hora da sua “morte”. Resultado: sangue para tudo quanto é lado e 10 pontos. É ...até isso foi sério. Na hora teve gente vibrando com o realismo da cena. Realmente era tudo verdade!

Agora Breno entrou na fase de edição e a primeira exibição do filme deve ocorrer no dia 4 de dezembro, na 2ª edição do Fita Crepe de Ouro, evento da própria Unisul.

Depois disso, Breno pretende lançar o filme numa festa, com a banda responsável pela trilha sonora tocando. No mais, é divulgar o filme pela internet, com venda de DVD e correr atrás dos festivais de cinema.




                                                                                                                   por Dani Pacheco

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Crônica de uma produção independente

Dia de produção é assim, correria, vou de voule. Chama a amiga da irmã, cadela da vovó, até primo distante para fazer figuração. Os atores são todos iniciantes, colegas que divulgam seu nome por um almoço e jantar. E quem fornece esse almoço e jantar é o patrocínio, aquele tão suado que aparece nos agradecimentos dos créditos finais. E pra chegar lá não é fácil. Cinema independente por aqui depende de muitas coisas. É projeto pra mais de dez anos. Viver disso: pode tirar seu cavalinho da chuva. São leis de apoio que não apóiam em nada, e quando apóiam, apóiam pouquinhoinhoinho. Ênfase para pouco: a verba é sempre curta para fazer um curta. Na maioria das vezes, tem que estar preparado para tirar dinheiro do bolso. Desde a gasolina do transporte aos equipamentos. Ah, os equipamentos! Coisa cara é aluguel de câmera, steadicam, spotlight. E os efeitos da iluminação é responsabilidade do papel machê. Toda a paleta de cores que uma papelaria pode te oferecer. Dia de gravação: frio na barriga de todos. A câmera, por menos que seja o destino da gravação, sempre intimida. Corta, faz, refaz, refaz, refaz. Atores iniciantes, lembram? Cavalo dado não se olha os dentes. Depois das gravações é que começa. Sim, edição. Corta, cola, corta, cola, corta, corrige, cola. O trabalho do editor é digno de admiração. Aliais, todos os trabalhadores do meio cultural são dignos de admiração. Pena que todo mundo esquece essa admiração. E a remuneração.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Tá bombando

Que não seja o preço da entrada que te impeça de ver filmes nesta primeira quinzena do mês !!!

Como parte da comemoração do ano da França no Brasil, o Serviço Social do Comércio,  está com a Mostra de Cinema Francês Contemporâneo. As apresentações, que começaram no dia 3 e vão até o dia 10 deste mês,  estão ocorrendo sempre às 20 horas no SESC/Prainha e, para a alegria do povo, são de graça.

Do dia 9 a 14 de novembro vai rolar a terceira edição da Semana de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina. O evento ocorre na própria UFSC, tendo na programação mini-cursos, palestras, debates, lançamento de livro e, logicamente, apresentação de filmes. Faz também parte da programação a Mostra de Cinema Japonês em película (16 mm). Essa, porém, será na Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina, todos os dias, às 20 horas. Todo o evento, inclusive os mini-cursos, é gratuito e aberto ao público.

                                                                                                                             por Dani Pacheco

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Gurcius Gewdner e a produção no Cinema Independente

"Meu interesse por fazer filmes partiu da música. Poder realizar um filme com a música da sua banda hoje é extremamente fácil. Já minha paixão pelos filmes vêm desde pequeno; era vidrado em monstros, tantos nos reais animais quanto nos fictícios. E de monstros pra filmes de terror é um pulo. Aí veio o interesse por diretores fodões,principalmente os brasileiros" relata Gurcius Gewdner,diretor e produtor de seus próprios filmes.

"Tenho uma dificuldade em ver o cenário do cinema independente local. Acredito que ele não existe porque além de estar tudo ligado, eu por exemplo tenho parceria com outras produtoras independentes, como a Canibal Filmes e a Black Vomit Filmes. Você pode realizar a sua produção em qualquer lugar, sem ter necessariamente a relação com o local em que foi gravada, por isso que é chamado de produção independente".

Além disso, o criativo desenhista é dono de sua própria produtora, a Bulhorgia Produções e de uma loja de cultura independente no centro da cidade, com roupas, produtos, cd's e lp's, livros e principalmente filmes do descolado cenário independente. A loja é bem conhecida entre os pós-modernistas da cidade e vale a pena ser visitada:
www.cerebro.bulhorgia.com.br

Macé Di Bernardi e a direção de arte no Cinema Independente

Última quinta feira ocorreu a estréia do dvd do filme "Se eu morresse amanhã" de Ricardo Weschenfelder, a exibição foi seguida por uma palestra com o diretor, a diretora de arte Macé Di Bernardi e o diretor de fotografia Marx Vamerlatti. O curta conta a história de um bibliotecario que tem uma estranha obessão: ele visita enterros e se faz passar por conhecido dos mortos. Até que conhece Marta, uma pesquisadora da literatura que tem os mesmos interesses mórbidos. Apartir desse encontro, sua vidas mudam de rumo.
"A produção contou com uma equipe unida, formada por amigos, oque é muito comum nesse tipo de trabalho, e torna tudo ainda mais prazeroso. O projeto existia há mais de 10 anos, e com uma ajudinha aqui outra cá, ele tornou-se completo" relata Ricardo. "A fotografia densa, com uma paleta de cores escuras em ângulos específicos é extremamente presente nesse trabalho. Outra dificuldade foir trabalhar com a HD SI2K, uma máquina totalmente nova para todos" explica Marx. A câmera da qual ele fala, é uma digital que capta em arquivos e não em negativos. Deixar o trabalho fora da película tornou-o mais desafiador, destacando a prodção como primeiro curta do extado a utilizar esse tipo de câmera.


A direção de arte enfim se deu conta pela prestigiada Maria Célia Di Bernardi, que nos cedeu uma entrevista exclusiva sobre a sua vasta experiência em produções independentes.

COMO FOI SUA EXPERIÊNCIA NA DIREÇÃO DE ARTE DO CURTA “SE EU MORRESSE AMANHÔ?

Somando dezoito produções em todas as bitolas e metragens, cada trabalho oferece uma nova possibilidade de compartilhar ou trocar idéias e experiências, estimulando pesquisa constante.
Ter participado como diretora de arte, da realização do curta 35 mm de Ricardo Weschenfelder “Se eu Morresse Amanhã” trouxe um desafio especial. Pela primeira vez em Santa Catarina foi utilizado o equipamento 2K de altíssima resolução, exigindo grande cuidado com detalhes de cenografia, figurino e maquiagem.

O entrosamento da equipe tornou fluentes e prazerosos os processos de preparação, pré-produção e filmagem.

A direção de RW desde a análise técnica do roteiro indicando diretrizes para a preparação da arte, deu liberdade e confiança para produzir com segurança e autonomia, motivando-me dedicação aos mínimos detalhes.

Produzir cenários, figurinos, objetos facilitando aos atores a melhor condição para viver suas personagens. Investigar texturas e formas e a partir da paleta de cores escolhida, oferecer à fotografia condições de explorar detalhes, profundidades e shoots , facilitando as melhores composições de quadro.

O QUE ACHA DO CENÁRIO ATUAL DO CINEMA INDEPENDENTE CATARINENSE?

Santa Catarina, comparando-se aos estados do sul teve até a criação e regulamentação da Lei Estadual de Incentivo à Cultura (cabe dizer,exigida e articulada pela classe cinematográfica primordialmente) produção bastante incipiente em relação à quantidade.

A criação da Associação Cultural Cinemateca Catarinense, a persistência nos objetivos, perseverança de seus fundadores Zeca Pires, Norberto Depizollatti, Maria Emília de Azevedo, entre outros, aglutinou produtores, realizadores e aficionados. A sucessão de Presidências , Daniel Izidoro e minha própria, realizando Oficinas de Cinema, abrindo espaços de relação com as produtoras comerciais, intensificando o contato com a UFSC e Unisul, culminaram com o primeiro curso superior em Santa Catarina , de Cinema e Vídeo na Unisul, sob coordenação de Zeca Pires e Chico Faganelo. Posteriormente o Curso de Cinema na Ufsc, especialmentepela determinada atuação de Mauro Pommer , provocaram produzir e pensar cinema, estimularam a produção.
O FAM, através de Antônio Celso colocou o Estado no cenário dos festivais de cinema, com suas mostras, oficinas e discussões sobre produção e distribuição.
Atualmente, temos um considerável e respeitado corpo de diretores, criação e de técnicos, um sindicato emergindo. Permitimo-nos ousadias maiores em termos de tecnologia, de produção, captação de imagem, e finalização.
Estamos realizando, embora tenhamos muito mais a fazer. Captação de recursos deixa a desejar pela pouca valorização aos nossos bons filmes. Metas a alcançar.

COMO SE DÁ A DIREÇÃO DE ARTE NAS PRODUÇÕES INDEPENDENTES?

Apesar de não ser a melhor forma de trabalhar, orçamentos baixos não me assustam. Quanto menos recursos financeiros, maiores exercícios de criatividade. Muito mais trabalho, também. Maior o desafio.
Procuro reunir uma equipe mais partícipe, aberta a investigações criativas, com conhecimento de sua área. Parceiros comprometidos com o projeto e com seu fazer, enquanto persigo a adequação ao binômio estética/narrativa.
Qual seja a linguagem entendo que a arte deve ser sutil. Quem deve brilhar é a personagem.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Beijos de Arame Farpado

Marco Martins a a turma do coletivo Vinil Filmes, inclusive o ator Renato Turnes, promovem a estréia nacional do curta já citado aqui antes "Beijos de Arame Farpado", continuação do "Veludo e Cacos de Vidro" (também de Marco), na Cinematece Paulista no dia 11 de novembro. A galera aproveita a exibição do ótimo terrir "Ângelo, o Coveiro"(também protagonizado por Renato Turnes) na quarta edição do Cine Fantasy, nos dias 10 e 12 de novembro, para apresentar ambas as obras aos paulistanos.
Na íntegra para vocês, o trailler de "Beijos de Arame Farpado".

FITA CREPE DE OURO



Primeira edição do evento Fita Crepe de Ouro ocorreu no último dia 16 no auditório C da Unisul - Pedra Branca. O evento que será repetido todos os semestres é uma iniciativa dos próprios alunos para premiar os TCCs e conta com o apoio necessário da coordenação do curso de Cinema e Realização Audiovisual. E aí vai pra vocês a lista de relação de vencedores:





JURI POPULAR: LOREM IPSUM - GUILHE THOMAZI
FILME: OBRA SEM TITULO - BRENO FURTADO
DIREÇÃO: JOAOZINHO, BU - RAFAEL MARTINS
ROTEIRO: JOAOZINHO, BU - RAFAEL MARTINS
FOTOGRAFIA: LUCAS NIERO, por VAGO
ARTE: MOARA COSTENARO, por PANDORA
FIGURINO: MOARA COSTENARO, por PANDORA
MAQUIAGEM: JOAOZINHO, BU - RAFAEL MARTINS
ATRIZ: MAISA, por PANDORA
ATOR: GABRIEL, por TE VEJO NO ESPAÇO
SOM: KENZO, ALLAN, GUILHE - LOREM IPSUM
MÚSICA: DANIEL BECKER, por QUIMERA
EDIÇÃO: ALLAN LANGDON, por GUILHE THOMAZI







A maioria dos curtas já se encontram no youtube, quem tiver interesse específico em algum deles é só entrar em contato com marcianodiogo@hotmail.com para maiores informações.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Tarantino e o hibridismo audiovisual


Já é de praxe problematizarmos aqui o conceito de cinema independente, portanto vamos para mais uma rodada de discussão: a tênue linha entre cinema autoral e comercial. O cinema autoral, tendo como maior característica a independência ou pelo menos a interdependência estética e financeira, nos remete imediatamente ao contraste do cinema comercial.

Mas o atual mercado em expansão permite sim que diretores transitem por esses territórios antes tão distintos. Quentin Tarantino é um exemplo deles. Vendeu seus dois primeiros roteiros para conseguir produzir e filmar seu primeiro longa, e montou uma produtora própria e independente, BANDAPART, em homenagem ao clássico do gênio Jean Luc Gordard.

Os filmes de Tarantino são conhecidos por seus diálogos afiados, cronologias fragmentadas e alteradas, o intenso destaque dedicado a cultura pop, e principalmente, o excesso de cenas de violência. Com todas suas características fazendo contraponto aos códigos hollywoodianos, esse diretor cinéfilo que diz nunca ter frequentado as escolas de cinema, mas sim o próprio cinema, consegue fazer o que poucos conseguem unindo o cinema autoral ao comercial.

Com fortes influências da nouvelle vague francesa, filmes faroestes americanos, filmes de ação orientais e filmes de terror italianos, Tarantino conquistou espaço no mercado com seu estilo e estética única e contemporânea. Ele não hesita em ser citacional quando se trata desses seus estereótipos prediletos, e faz questão de homenagear marcando essas influências conceituais em suas produções.

Gosta de trabalhar com o mesmo círculo de atores, e seus elencos costumam ser potencialmente hollywoodianos. Porém, mesmo fazendo seus atores interpretarem personagens sempre ligados ao seu estereótipo pessoal de personalidade, consegue realizar em seus inteligentes diálogos características únicas, inserindo uma importancia trivial de diferenciação.

Deixa bem claro seu conceito de eliminar personagens humanamente reais dos filmes de arte, e substití-los por provocações sociais escarchadas com impactos cheios de atitude. Seus personagens costumam ser extremamamente ativos, intensos e funcionais.
Ele não tem medo de apresentar personagens esféricos, “sujos”, que realizam qualquer coisa para atingir seus objetivos.E na maioria das vezes, conseguem realiza-los. Não há senso dramárico fixo: não há problema de o mau triunfar no final, pois na maioria das vezes não há o mau. Nos vemos torcendo para o bandido, de forma que ele não é em todo o bandido.

O paralelismo universal se encontra também presente em suas produções, por exemplo, certas mesmas marcas fictícias de produtos ou restaurantes aparecem em vários de seus filmes, ou a presença de dois personagens que são irmãos em diferentes filmes.
A trilha sonora de seus filmes sempre se mostra extremamente eclética, sem medo de misturar ritmos musicais e hits das décadas de 60,70,80 e 90. O que demonstra o peculiar maniqueísmo do brilhante diretor para mesclar conceitos sem perder o sentido da idéia.

Esses fatores confirmam o fato de ele ser um dos cineastas mais completo e seguro do mercado atual, comparado e chamado muitas vezes de “Godard da atualidade”, pois apesar de mostrar a principal característica autoral ao imprimir sua marca registrada em seus filmes de modo que se torna impossível não reconhece-los, não deixa de comercializa-los, ocupando grande espaço e com um grande nicho de espectadores. Portanto o cinema de Tarantino tem características que qualquer cineasta sonha atingir, quando trata-se de fazer parte de um meio diferenciado e poder alterá-lo sem deixar de fazer parte dele. O que comprova que é possível sim, realizar um cinema de arte sem deixar de ser comercial.

Contextualizando, aqui na Ilha temos alguns recentes curtas que tem certa influência tarantinesca, por mínima que seja. O próprio TCC de Breno Turnes, "Oito doses de conhaque"(que já comentamos antes aqui, fizemos um acompanhamento das gravações e postaremos um making off em breve), tem um gênero e foco na violência, característica distinta dos filmes de tarantino. Outro é o "Beijos de arame farpado", de Marco Martins, que tem forte influência do bang bang, outra característica tarantela. E mais um, esse um pouco menos recente, "O impostor", de Andreas Peter, têm claramente em sua montagem refêrencias a Tarantino.

Gilson Giehl e o Documentário Independente


Em descontraída entrevista após palestrar na Semana Catarinense de Jornalismo, Gilson Giehl, 44 anos, jornalista cineasta produtor de importantes documentários, dentre eles sua tese de conclusão da graduação em jornalismo, “Transbrasil PT-TYS Vôo 303 o acidente que Florianópolis não esqueceu”, relatou sua breve opinião sobre o cenário do mercado da produção independente audiovisual: “Na minha época não tinha esse glamour intelectual que o cinema tem hoje, me formei em cinema em 85 em São Paulo e a produção de obras audiovisuais independentes ainda eram escassas, muitos diziam que as produções não realizadas em película nem poderiam ser consideradas cinema. Hoje, elas ocupam o maior nicho do mercado. Minhas realizações são feitas por encomenda, a maioria graças a leis de incentivo. E a equipe é pequena, no máximo três ou quatro pessoas, onde todo mundo sabe um pouco de técnica e estética”.
Sua grande experiência com filmes foi “Blum- O Desafio de uma raça” com a produtora própria, G.J.G, iniciais de “Giehl, José Giehl”.

“Foi um filmão. O elenco principal tinha 15 atores. Nem estou falando dos coadjuvantes. Conseguimos filmar sem problemas. Deu tudo certo. Esse filme marcou a cidade”, conta o cineasta.

Segundo o blog do nosso colega jornalista jozias, em 1980, o filme “Blum- O Desafio de uma raça” foi exibido solenemente no cinema de São Miguel do Oeste e foi um sucesso regional em todos os sentidos.
“Eu me surpreendi. O filme foi exibido nos cinemas de todo o oeste do estado de Santa Catarina e teve gente chorando”, conta.
Giehl guarda com carinho o cartaz de seu filme. Aliás, ele é fascinado por cartazes de cinema. Tem uma coleção.

A experiência de gravar o filme “Blum” trouxe a Giehl a convicção de que é possível sim produzir boa cultura local, ou seja, não ficar restrito aos enlatados de Hollywood. A cidade, não importa qual, pode também produzir cinema de qualidade. Bastam apenas criatividade e mobilização da comunidade.
“Nunca fui de acreditar que santo de casa não faz milagre”, comenta.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Tá valendo - SC em cena

Eles podem não ser tão independentes assim, mas não há como deixar passar batido quando em menos de 10 dias três produções catarinenses são notícias no Estado, fora dele, e além das fronteiras marítimas.

Ontem foi noticiado pelo blog da colunista Juliana Wosgraus que o documentário "Espírito de Porco", de Chico Faganello e Dauro Veras, recebeu, no sábado, o prêmio especial do Júri Internacional na 15ª edição do Festival Internacional de Cinema Ambiental de Seia (Cine'Eco), em Portugal. Realizado com um prêmio de R$60.000,00 através do Edital da Cinemateca Catarinense, traça de uma forma sistêmica e irônica o impacto que a suinocultura exerce no cotidiano e no meio ambiente do oeste catarinense. As imagens concebidas durante 3 anos de filmagem resultaram em 52 minutos de narrativa suína, já que toda a questão é levantada pelo ponto de vista do porco e por ele discorrida. Segundo Dauro Veras, a intenção foi abordar questões políticas mais amplas e assim, "tentar fugir do planfetarismo animal".

Enquanto isso, pesquei lá no blog do Marquinhos Espíndola que, em Nova York, será exibido essa semana, o documentário "Sem Palavras", da jornalista e cineasta catarinense Kátia Klock. A exibição faz parte do calendário do Brazilian Film on Thursday, uma instituição que objetiva a divulgação de filmes brasileiros em plena N.Y., através da exibição e promoção de debates sobre os mesmos. O documentário é um relato de alemães que viveram os anos 40 em Santa Catarina, quando tendo o Brasil entrado na Segunda Guerra Mundial, os germânicos que aqui estavam viram-se perseguidos e proibida a sua língua materna.

Por fim, "Beijos de Arame Farpado", filme de Marcos Martins e que dá sequência ao curta "Veludo & Cacos de Vidro", estreará em São Paulo, na Cinemateca Brasileira, agora no início de novembro. Na verdade ambos fazem parte de uma trilogia, cuja parte final, segundo Loli Menezes, da Vinil Filmes, ainda não foi concebida. O filme trata da história de dois marginais, Veludo (Julie Christie) e Cacos de Vidro (Renato Turnes) e tem como referência o cinema brasileiro dos anos 70.

                                                                                                                              por Dani Pacheco

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Homem com dentes de silicone procura mulher com peitos de silicone

Este é Lourival Galliani, conhecido como "Toucinho Batera", figura lendária do meio musical ilhéu, e que teve sua alma destrinchada no filme "Sistema de Animação", de Allan Langdon e Guilherme Ledoux. Espontâneo, transparente, engraçado. Adjetivos que definem sem limitar esse baterista que influenciou toda uma geração de músicos do Estado. Já tocou com Fafá de Belém, Nelson Ned, César Camargo Mariano e pode-se dizer verdadeiramente que é um dos raros músicos que tocam com a alma. Começou a tocar bateria aos 8 anos e quem o conhece diz que sempre andou com as baquetas por aí. Hoje em dia ele se apresenta com o Cássio Moura Trio.


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Dia 3 de novembro o filme vai ser apresentado na Fundação Badesc, que fica próximo do Teatro Álvares de Carvalho. Lá também vai rolar um show, antes da apresentação do filme. Pelo que disseram, mais elaborado que este, mas com certeza, não tão intimista quanto foi. Os diretores/produtores tem feito apresentações em salas da cidade em média de uma vez por mês. O negócio é ficar antenado para ver quando vai rolar. Vale a pena.

Passei um olhar rápido pelo relógio do computador, um para às dezenove horas, já era tempo. Tive um minuto para olhar por cima as páginas de jornais abertas na tela que tinham esperado a tarde inteira por uma oportunidade para serem lidas. De relance consegui ver algo sobre "Sistema de Animação", uma hora e uma data, mas não vi quando nem onde. Só percebi que era algo relacionado ao filme feito em 2008 e que não tinha tido a oportunidade de ver por motivos que não lembro. Quando chegasse em casa olharia com detalhes.

Andando para casa, decidindo entre as obrigações A e B, qual não foi minha surpresa ao ver que o filme estaria rolando naquele exato momento no Cineclube Ieda Beck, da Cinemateca Catarinense, próximo ao largo da Catedral. Não titubiei, entrei.
Um pouco mais de uma hora de filme, com uma edição show, um filme espontâneo como seu principal personagem. Não é o objetivo aqui fazer comentários críticos sobre o filme, ele é para ser visto, sentido. Com várias colocações cômicas do Toucinho Batera, ele vai contando a forma como encara a vida e a música, e com isso vai deiando claro seu estilo de tocar.

O Toucinho tava lá. Assim como o seu Roberto (tenho quase certeza que não era esse o nome dele), amigo de infância do baterista e que dá vários depoimentos no filme. Cássio Moura, Luiz Meira, Guinha Ramires, são outros nomes que estão na tela pra nos contar quem é esse tal de Toucinho Batera.

No final, teve um bate-papo com o Ledoux e o Langdon, enquanto era montada o equipamento para um pocket show. No meio disso tudo eu só pensava onde estava minha máquina que por um acaso não tinha ficado na bolsa. Aquilo tudo precisava ser registrado. Daqui a pouco o próprio Toucinho começa a falar, e você pode ter certeza que ficaria horas vendo-o discorrer sobre música, sobre a vida, sobre si. Ele prende e preenche. Foi aí que veio a frase, que dá título ao post.

Depois de tudo isso começa o som, 3 interpretações de Hermeto Pascoal, pra fechar com chave de ouro. Há essas horas já tinha esquecido da máquina faz tempo, pois entendi que tem certas coisas que são feitas para ficar registrada apenas na memória.

                                                                                                                        por Dani Pacheco

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

E vai ser dada mais uma largada...

Nesta semana, dia 21, começa a gravação de mais um filme de "guerreiro'. Com influências do filme "O Lutador" e "Medo e Delírio", este último baseado no livro de Hunter S. Thompsom "Medo e Delírio em Las Vegas", o "Oito doses de conhaque", de Breno Turnes, conta a história de um diretor ex-bambambam que vive agora na "sarjeta". Quer saber mais é só chegar lá no blog do filme.

                                                                                                                         por Dani Pacheco

sábado, 17 de outubro de 2009

Trash catarinense na Babilônia


Tá acontecendo em São Paulo, de 13 a 18 de outubro, o Ciclo de Cinema Independente Brasileiro, no Cine Olido, com ingressos a R$1,00 a inteira e R$0,50 a meia. Quem está por lá debatendo a cenda independente e apresentando seu novo filme "Ninguém deve morrer" é o cineasta Peter Baiestorf, catarinense de Palmitos.

Adepto do cinema mais que trash, criador e mentor intelectual da Canibal Filmes, Baiestorf, precursor do cinema independente catarinense, sofre influências de diretores como John Waters, George Kuchar e José Mojica Marins.

Criador da estética Kanibaru Sinema, que defende filmes feitos de qualquer jeito e com zero de orçamento,Baiestorf é o responsável pelo "Manifesto Canibal", texto escrito em parceria com César Sousa e que define os alicerces da estética Kanibaru.

Não espere lindas histórias de amor de uma pessoa que tem filmes com nome de "Arrombada: vou mijar na porra do seu túmulo!!!" (2007) e "Vadias do Sexo Sangrento"(2008). Em "Ningúém deve morrer", que foi lançado em Curitiba no dia 9 de outubro, é contada a história de um fazendeiro do oeste catarinense que anda atrás de um peão para matar porque o infeliz não quis "comer" uma vaca em um de seus filmes de zoofilia.

Não encontrei o trailer do novo filme, mas abaixo segue o trailer do "Eles comem sua carne"(1996) para você ver o estilo do cara, que sempre usa uns sons pesados, tipo hardcore e death metal nas trilhas sonoras. Também vale a pena conferir o artigo do Roberto Marcelo Caresia, do site Boca do Inferno que traça um panorama e sínteses de alguns dos filmes do Baiestorf. Haja estômago!!!





                                                                                                                      por Dani Pacheco

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Catavídeo



Terminam hoje as inscrições para o 11ª Catavídeo, evento catarinense que divulga as produções audiovisuais do Estado, desde 1999.


Realizado pela Associação Cultural Alquimídia e pelo Fundo Municipal de Cinema de Florianópolis (FUNCINE), em parceria com o SESC/SC, o Catavídeo, que este ano ocorrerá entre os dias 16 e 21 de novembro, no SESC Prainha, apresenta-se como um canal de debates entre produtores e público.

Além disso conta com lançamentos de livros, oficinas e mostras paralelas.
O legal é que não há uma seleção de vídeos, mostrando-se bastante democrático aos interessados. Segundo o site da Alquimídia, em função do número crescente de inscrições, o evento tem conferido ao Estado o 4º lugar na produção de vídeos do país.

                                                                                                                       por Dani Pacheco

terça-feira, 13 de outubro de 2009

UMA LUZ NO FIM DO TUBO

É esse título que dá nome ao filme de Antônio Zanella, jornalista, e que conta a história de Elias Diel, 35 anos, que ficou cego em consequência de um acidente de carro tendo então, que reestruturar sua vida em função das novas necessidades. "Figue", como Elias é conhecido, era um promissor surfista na década de 80, quando aos 16 anos, sofreu a fatalidade. Hoje Figue é professor de ioga, voltou a surfar, e Zanella consegue através das imagens e depoimentos de amigos e do próprio "Figue" nos passar o quanto somos limitados dentro da nossa suposta "normalidade". Não curto o termo deficiência, depois de ver a história de "Figue" talvez entenda o quão deficiente é que somos nós.

O filme é resultado do trabalho de conclusão do curso de jornalismo de Zanella e ganhou este ano o prêmio de mlhor roteiro no Festival de Cinema de Aventura e Turismo em Socorro, São Paulo. Entramos em contato com Zanella por e-mail enviando umas perguntinhas básicas, e o resultado está logo abaixo. Bem, deixo o Zanella falar por si, e na sequência seguem as partes 1 e 2 de "Uma luz no fim do tubo", que fala mais que qualquer comentário.

1 - Como surgiu a idéia de fazer o filme?

Eu precisava definir um tema para meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). O veículo eu já sabia que era vídeo, pois trabalho desde os 17 anos com filmagens e edição de surf. Procuro dizer que quando fazemos algo que realmente gostamos o produto fica 200% melhor porque o envolvimento e dedicação são maiores. E assim defini a prioridade: surf. Queria mostrar à sociedade - que sempre relacionou o surf com um esporte de maconheiro e vagabundo - exemplos de reabilatações sociais.

Nasci com 4% da visão esquerda e após muita cirurgias consegui recuperar toda a minha visão. Sofri muito na infância com brincadeiras e piadas, e a partir dali comecei a idolatrar ainda mais os deficientes visuais. Pesquisei se havia algum surfista cego ou trabalhos que explorassem isso até que fiquei sabendo de voluntários na Praia da Atalia que davam aulas para deficientes visuais, os quais pegavam espuma e tal mas mesmo assim fiquei empolgadasso e marquei um horário com um dos voluntários, num domingo. Sábado rolou umas ondas em Balneário e antecipei minha ida para lá. Estava rolando as famosas direitas no Maramba e quando surfávamos, meu irmão ouviu um cara (Claudião - irmão do Figue) instruir o Figue, ficou curioso e foi perguntar o porquê daquilo. Fiquei fascinado e a cada dia me impressionava mais com a sua história e as aventuras nas escaladas, rafting, jiu-jitsu, instrumentos musicais, etc...

Depois de muita conversa e mostrando minha honestidade e meu verdadeiro objetivo, Figue topou gravar. Hoje, somos da mesma família, o pai dele me trata como filho e cada segundo junto é um empurrãozinho na vida. Fiquei imaginando um nome ideal ao filme muito tempo. Assim como o resto do roteiro, músicas e idéias para o documentário, minhas imaginações e inspiração sempre eram surfando ou no outside esperando a série. Procurava alguma coisa que traduzisse o Figue: tubo, onda, aventura, esperança, etc. Pensei em "Um novo olhar sob a crista da onda", ficou meio grande não gostei então o Cláudião e seu instinto publicitário: "P...! Não tinhas falado que o Figue era uma luz no fim do túnel para muitos? Que tal "uma luz no fim do tubo" já que o Figão só pensa em tubo aí junta tudo, pô!".

2 - Como foi o processo de criação?

Primeiro de tudo foi pesquisar a história do Figue e os personagens da vida dele. Falando com ele e com a família fui definindo as fontes e as estratégias de entrevista. Tinha que priorizar o pessoal que não era daqui ou não moravam aqui em SC, como surfistas profissionais, amigos e médico. Na medida em que eles vinham para cá competir ou trabalhar eu pegava meu equipamento e corria atrás para gravar. Foi assim no WCT em Imbituba, inúmeras idas para Balneário Camboriú, Itajaí e região. Consegui entrevistar o médico que atendeu o Figue no dia do acidente (há 20 anos) no plantão do hospital, um dos maiores mestres mundiais do Yoga, Gustavo Ponce, e aí por diante.

Fiz tudo sozinho. Tudo que tu imaginas. A única coisa feita por outras pessoas foi uma imagem minha saindo com o Figue da água - feita pelo meu irmão - e a trilha principal ( "Uma luz no fim do tubo") feita pelo Pedro Collaço. O mais engraçado nesse processo foi a minha decupagem. Como não tinha muito tempo (fazia 9 matérias na faculdade divididas nos dois turno e ainda trabalhava à tarde) quando voltava das viagens depois de gravar eu colocava o fone na câmera e ia decupando o material no trajeto. Levei várias buzinadas, é claro, mas já matava essa função. Determinei que iria entrevistas todas as fontes primeiro, faria as imagens de surf de acordo com a disponibilidade do Figue e das condições do mar e tempo e deixaria por último a entrevista com o Figue. Foi aí que quase acabou meu trabalho (como conto a seguir).

3 - Quais dificuldades você encontrou tanto para fazer quanto para distribuir?

Estava já tudo gravado e começando a edição. No final de outubro o Figue pegou uma pneumonia bacteriana e ficou quase dois meses na UTI em coma enduzido. Foram semanas de apreensão e fé da família e amigos. Fiquei numa situação meio chata porque ao mesmo tempo que já era da família e um amigo eu precisava terminar meu trabalho. Então, fui editando tudo e deixando espaços para a entrevista do Figue.

Um dia antes do prazo para entrega do documentário na banca o Figue foi começando a respirar sem ajuda de aparelhos e à noite foi para o quarto. Peguei meus equipamentos e fui para Balneário correndo na cara de pau - e com autorização da família - gravar com ele. Foi bem no dia das enchentes, fiquei ilhado em Tijucas e em Itajaí mas consegui chegar no hospital antes do Figue dormir. Não só gravei como no outro dia fui para Santos em um evento de inclusão social da Globo representar o Figue. No hotel editei sua entrevista, finalizei e botei para gravar o dvd. Fui recompensado com o sorriso e emoção de todos ao verem em primeira mão o documentário.
Quanto à distribuição é o mais sofrido para as produções independentes como a minha. Devo ter gastado mais de R$ 1000 reais com impressões, mídias e estojos. Distribuo para amigos, familiares ou pessoas estratégicas. Sei que deu resultado e em menos de um ano muita gente já viu ou tem o dvd.

O que me ajudou muito foi o youtube. Impressionante mesmo. Coloquei o vídeo e em menos de uma semana mais de duas mil pessoas viram. Organizações de festivais, galera do surf e empresas. Uma delas me convidou para conhecer a empresa em São Paulo e estamos negociando com eles um patrocínio.

4 - Como tem sido a repercussão do documentário?

Cara isso é o mais animal.. Eu só queria acabar logo, apresentar e ir embora. Quando a banca me deu dois 9,5 e um 7, essa nota mais baixa me deixou tão para baixo e com sentimento de dever não cumprido porque tinha visto tanta porcaria em 4 anos de faculdade com nota máxima. Meio que engavetei o projeto e só mostrava a amigos, mas via nos olhos de quem assistia uma emoção que me arrepiava e pensei: "Pô, não posso parar por aqui tenho que levar essa mensagem à todos.".

Foi então que surgiu o convite para ir a Santos representar o Figue (estava no hospital com pneumonia) no 5º Paratodos, novembro de 2008. Ali recebi um carinho enorme de famosos à anônimos que vi que aquela nota baixa da banca era pura implicação de uma professora que não gostava de surfistas e muito menos aceitava eu ir surfar à tarde e chegar na prova tirando nota alta. Aí começou a maratona: Finalista Prêmio Unimed-SC 2009 – 2º Lugar Categoria TV, Finalista Mostra Puc Rio de Janeiro/RJ - 2009, Mostra Paralela Gramado Cine Vídeo - 2009, Mostra Paralela Festival Brasileiro Curtas Universitários - Rio de Janeiro/RJ e São Paulo/SP - 2009 e Finalista no Festival de Cinema de Aventura e Turismo - Socorro/SP – 2009, onde entre feras do ramo e filmes milionários ganhei na categoria “Melhor Roteiro”.

A reação do público foi o que mais me chocou com certeza, cara. Ver nos olhos das pessoas, receber um abraço ou um elogio não tem preço. Um dia estava surfando na Joaca aí chegou um gurizão que tínhamos rolo nas antigas (coisa de colégio, mulher, etc) e me falou: "Po não gostava de ti mas depois que vi o que fizesse peço desculpa por tudo e agradeço a mensagem que tais passando para a gente". No WCT desse ano o Neco também me deixou bem feliz: "Antonio, chorei do início ao fim e fui dormir chorando. Lindo, lindo, lindo!". E no dia Neco passou duas baterias.

Mas o que mais me marcou foi uma senhora - aparentava uns 80 anos - em Santos. Logo que sai do palco na apresentação ela me puxou no canto, chorando me abraçou e disse: "Filho, você me fez viver. Hoje ainda fui na padaria reclamando de dor no meu joelho, dos meus calos, cheguei a falar que não sairia mais de casa por dor. Me fizesse enxergar que dor seria se eu desistisse de comprar meu pão assim como o Figue não desistiu de surfar".

5 - Como você ve a produção independente no Brasil?

Vergonhosa mas vem melhorando muito. É uma questão que não vai se resolver de um dia para o outro com uma fórmula mágica mas poderia começar a ser repensada e partir de cada região. Nosso estado, sem dúvida, é o pior do Brasil em relação à apoio do governo e empresas. Fui na PUC do Rio de Janeiro em um festival que fomos finalista e vi o quanto a cidade e o estado valorizam as produções independentes, cinema, teatro, etc. Não precisa ir tão longe, basta entrar no Kinoforum e ver que somos o único estado que não tem leis de incentivo iguais às outras.

Mas é claro que não vou ficar sentado esperando por ajuda. E é isso que eu recomendo. Hoje você pode filmar com inúmeros equipamentos, qualquer computador tem um programa de edição gratuito e com manual fácil de entender. É assim que se começa até porque foi assim que eu comecei. Não desista dos seus sonhos e faça o que goste, o que dê prazer. Como envolvia surf e imagem foi uma coisa que fiz do fundo do coração com maior prazer e hoje sinto o gostinho de "quero mais".

6 - E agora? Pretende continuar trabalhando com produção audiovisual? Tem algum novo projeto em vista?

Vou te falar que andava meio indeciso e muito desanimado. Me desiludi muito com o mercado e comecei outra graduação - Direito - contra vontade própria. Sei que um curso vai agregar a outro e vice-versa mas minha paixão é o jornalismo, ainda tenho esperanças de seguir carreira como jornalista.

Esse fim de semana (festival em Socorro) conheci muita gente boa e querida da área de cinema que me botou para cima elogiando o documentário e me guiando para outros caminhos os quais não fazia idéia. Estou pesquisando sobre as leis de incentivo porque tenho em mente fazer outros documentários sobre surfistas deficientes e pretendo ainda escrever um livro sobre o Figue, já que foquei apenas no surf deixando de lado suas escaladas, aventuras no rafting, jiu jitsu, etc.
Abandonar a área audiovisual, jamais! Não tem preço você apertar play num filme seu com a sala lotada e ver o sorriso e a emoção nos olhos da galera. É o meu combustível diário para não desistir de um ramo abandonado por empresas e autoridades.






                                                                                                                         por Dani Pacheco

terça-feira, 22 de setembro de 2009

"Porque o cinema não precisa ser caro, nem o trash precisa ser lixo."

Neste final de semana (26 e 27 de setembro) rola em Florianópolis o Curso de Cinema Alternativo, ministrado pela filial na cidade da chapecoense "Conjurações Trash Produções". Com mais de 20 curtas no currículo, a produtora, sendo independente, preza pelos filmes de baixo orçamento e considera-se sem fins lucrativos. As aulas serão realizadas no colégio Barddal e de responsabilidade dos "conjurados" Patrícia Pinheiro e Saulo Popov Zambiasi.




                                                                                                                          por Dani Pacheco

Sem grana nem fama

Cinema independente é aquele que não depende de grana pra ser feito, realizado só pelo amor a coisa, o que agrega deveras na qualidade de muitos filmes que estão por aí, a maioria curtas. Como não tem grana para distribuição, acabam circulando meio obscuros, onde só quem se antena no estilo acaba sabendo.

Centros universitários, festivais, centros culturais, cinemas em ruas sem saída ou na casa daquele seu amigo meio estranho são lugares onde você pode encontrar essas preciosidades da 7ª arte. Alguns podem alcançar status de "cult", ficarem conhecidos, mas com certeza e infelizmente você não vai vê-lo no Supercine sábado à noite. Outros, são podrera mesmo, e é aí que mora sua arte.

O cinema independente subverte toda a nossa lógica capitalista, mostrando que "uma câmera na mão e uma idéia na cabeça" (thanks Glauber Rocha) é muitas vezes mais do que suficiente para fazer acontecer. E hoje em dia com a Internet as salas de cinema não são mais o único caminho para esses cineastas escoarem seus devaneios. Viva a globalização!!!!

                                                                                                                  por Dani Pacheco