terça-feira, 27 de outubro de 2009

Tarantino e o hibridismo audiovisual


Já é de praxe problematizarmos aqui o conceito de cinema independente, portanto vamos para mais uma rodada de discussão: a tênue linha entre cinema autoral e comercial. O cinema autoral, tendo como maior característica a independência ou pelo menos a interdependência estética e financeira, nos remete imediatamente ao contraste do cinema comercial.

Mas o atual mercado em expansão permite sim que diretores transitem por esses territórios antes tão distintos. Quentin Tarantino é um exemplo deles. Vendeu seus dois primeiros roteiros para conseguir produzir e filmar seu primeiro longa, e montou uma produtora própria e independente, BANDAPART, em homenagem ao clássico do gênio Jean Luc Gordard.

Os filmes de Tarantino são conhecidos por seus diálogos afiados, cronologias fragmentadas e alteradas, o intenso destaque dedicado a cultura pop, e principalmente, o excesso de cenas de violência. Com todas suas características fazendo contraponto aos códigos hollywoodianos, esse diretor cinéfilo que diz nunca ter frequentado as escolas de cinema, mas sim o próprio cinema, consegue fazer o que poucos conseguem unindo o cinema autoral ao comercial.

Com fortes influências da nouvelle vague francesa, filmes faroestes americanos, filmes de ação orientais e filmes de terror italianos, Tarantino conquistou espaço no mercado com seu estilo e estética única e contemporânea. Ele não hesita em ser citacional quando se trata desses seus estereótipos prediletos, e faz questão de homenagear marcando essas influências conceituais em suas produções.

Gosta de trabalhar com o mesmo círculo de atores, e seus elencos costumam ser potencialmente hollywoodianos. Porém, mesmo fazendo seus atores interpretarem personagens sempre ligados ao seu estereótipo pessoal de personalidade, consegue realizar em seus inteligentes diálogos características únicas, inserindo uma importancia trivial de diferenciação.

Deixa bem claro seu conceito de eliminar personagens humanamente reais dos filmes de arte, e substití-los por provocações sociais escarchadas com impactos cheios de atitude. Seus personagens costumam ser extremamamente ativos, intensos e funcionais.
Ele não tem medo de apresentar personagens esféricos, “sujos”, que realizam qualquer coisa para atingir seus objetivos.E na maioria das vezes, conseguem realiza-los. Não há senso dramárico fixo: não há problema de o mau triunfar no final, pois na maioria das vezes não há o mau. Nos vemos torcendo para o bandido, de forma que ele não é em todo o bandido.

O paralelismo universal se encontra também presente em suas produções, por exemplo, certas mesmas marcas fictícias de produtos ou restaurantes aparecem em vários de seus filmes, ou a presença de dois personagens que são irmãos em diferentes filmes.
A trilha sonora de seus filmes sempre se mostra extremamente eclética, sem medo de misturar ritmos musicais e hits das décadas de 60,70,80 e 90. O que demonstra o peculiar maniqueísmo do brilhante diretor para mesclar conceitos sem perder o sentido da idéia.

Esses fatores confirmam o fato de ele ser um dos cineastas mais completo e seguro do mercado atual, comparado e chamado muitas vezes de “Godard da atualidade”, pois apesar de mostrar a principal característica autoral ao imprimir sua marca registrada em seus filmes de modo que se torna impossível não reconhece-los, não deixa de comercializa-los, ocupando grande espaço e com um grande nicho de espectadores. Portanto o cinema de Tarantino tem características que qualquer cineasta sonha atingir, quando trata-se de fazer parte de um meio diferenciado e poder alterá-lo sem deixar de fazer parte dele. O que comprova que é possível sim, realizar um cinema de arte sem deixar de ser comercial.

Contextualizando, aqui na Ilha temos alguns recentes curtas que tem certa influência tarantinesca, por mínima que seja. O próprio TCC de Breno Turnes, "Oito doses de conhaque"(que já comentamos antes aqui, fizemos um acompanhamento das gravações e postaremos um making off em breve), tem um gênero e foco na violência, característica distinta dos filmes de tarantino. Outro é o "Beijos de arame farpado", de Marco Martins, que tem forte influência do bang bang, outra característica tarantela. E mais um, esse um pouco menos recente, "O impostor", de Andreas Peter, têm claramente em sua montagem refêrencias a Tarantino.

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